Texto publicado originalmente na REDE SOCIAL PROPOST
ATENÇÃO > MUITOS SPOILERS!
Filme: Como Enlouquecer seu Chefe (Office Space – 1999) Direção/Roteiro: Mike Judge ;
Elenco: Ron Livingston , David Herman , Ajay Naidu , Gary Cole , Jennifer Aniston
Nota no IMDB: 7,8 (www.imdb.com)
OBS: O site IMDB é o mais conceituado e completo sobre cinema. Recomendo para quem ainda não conhece. Todos os links desse texto são direcionados ao site imdb, para complementar a sua leitura.
Hoje vou falar de um filme muito interessante, mas que a primeira vista pode parecer mais um besteirol americano, culpa das famosas traduções ridículas de títulos para o português que em nada tem ligação com o enredo e são alvos constantes de piadas na internet. O titulo “Como enlouquecer seu chefe” chega a ser uma tradução risível. Acredito que a tradução ao pé da letra de “Office Space”, algo como “espaço de escritório” teria maior relação com o tema abordado no filme: o dia-a-dia moderno de quem trabalha em escritórios e, tiraria essa aura de filme besteirol passada no primeiro momento.
O filme possui uma legião de fãs mundo a fora, sendo considerado um dos filmes mais cult de todos os tempos(entenda "cult" como "cultuado"). A revista Set #231 elaborou uma lista com 30 filmes "cult" , com Office Space ficando na posição 16. Inclusive foi através desta edição que me interessei e conheci o filme.
Bem, então vamos falar um pouco do enredo. O filme é focado no dia-a-dia de 3 amigos programadores de computadores que trabalham para uma empresa chamada Initech: Peter Gibbons (Ron Livingston) , Michael Bolton ( David Herman) e o estrangeiro Samir Nagheenanajar (Ajay Naidu) . Michael e Samir estão de certa forma adaptados ao seu emprego e, trabalham arduamente por cinco anos a espera de uma promoção, porém Peter está completamente desestimulado e odeia seu trabalho, onde permanece o dia inteiro sentado fazendo atualizações dos softwares da empresa para entrada do ano 2000 (famoso bug do milênio). Ao mesmo tempo é constantemente importunado pelos seus oito chefes(destaque aqui para o papel de Gary Cole) que nunca lhe ouvem e vivem pegando no seu pé, inclusive sempre lhe convocando para trabalhar aos sábados.
A primeira cena do filme é hilária. Peter pega um engarrafamento insuportável a caminho do trabalho e vê um velinho de bengalas se deslocar pela calçada com uma velocidade maior que de seu veículo. Essa cena lembra muito Michael Douglas em um “ Um Dia de Fúria ”, porém Peter não toma nenhuma atitude drástica, apenas se dirige frustrado para mais um dia entediante de trabalho. Quem nunca passou por isso?
Não vendo saída para sua vida banal, Peter acaba cedendo à pressão de sua namorada irritante (todo mundo tem ou já teve uma dia, não é verdade?) e decide frequentar uma sessão de “hipnoterapia”. Nessa cena Peter explica como sua vida é banal e sem graça:
"Então eu estava sentado no meu cubículo hoje e me dei conta que desde que eu comecei a trabalhar, todo santo dia tem sido pior do que o anterior. O que quer dizer que todo dia que você me vê eu tô no pior dia da minha vida".
Durante a hipnoterapia, o psicólogo tem um infarto enquanto aplica uma espécie de uma hipnose.Como consequência, Peter sai do consultório com uma concepção completamente mudada de mundo(resultado de uma hipnose ou choque após presenciar uma morte?).
Peter passa a ser relapso no trabalho, falta aos sábados, rompe com a namorada irritante, passa a ignorar seus 8 chefes e toma coragem de conhecer Joanna (Jennifer Aniston), uma garçonete por quem sempre se interessou mas nunca teve coragem de conversar. É justamente nesse momento que a empresa contrata consultores que vão ser responsáveis por analisar a função de cada funcionário e definir quais devem ser demitidos. Peter com seu atual comportamento irreverente e desleixado acaba conquistando a simpatia dos consultores e é promovido, enquanto Samir e Michael , melhores programadores da empresa, são demitidos.
Peter preocupado com a injustiça cometida pela empresa propõe aos amigos Samir e Michael um golpe bancário através da instalação de um software que agiria como um vírus nos computadores da empresa, desviando pequenas frações de centavos nas transações bancárias e enviando para uma conta particular. Este seria o golpe perfeito, pois as quantias desviadas seriam tão irrelevantes em curto prazo que de forma nenhuma seria notada pela empresa, porem em longo prazo somaria uma grande quantia. É, meus amigos, mas o mundo da programação não é assim tão fácil, Michael comete erros em algumas casas decimais que faz com que o software desvie mais de 300.000 dólares em apenas um dia: Uma grande enrascada.
A partir de agora deixo o filme por sua conta, se você tiver interesse em assistir. Só gostaria de citar só mais uma coisa: a clássica cena onde o três amigos seqüestram e destroem a impressora da companhia que sempre trava nos momentos cruciais.
O filme tem como pano de fundo algumas questões que incomodam a muitos trabalhadores constantemente: Será que é possível trabalhar com total envolvimento e prazer ou o trabalho sempre deve ser uma chatice a ser suportada por todos? Que motivação pode-se ter para trabalhar de forma dedicada se não podemos participar do lucro da empresa? De que adianta trabalhar corretamente e de forma honesta e ganhar o mesmo que um colega de trabalho irresponsável? Como uma empresa poderia estimular um funcionário a prestar melhores serviços e premia-los por isso? Porque nos matamos tanto no trabalho enquanto nossos chefes, que ganham muito mais ficam sentados apenas dando ordem? Todas essas questões são discutidas no filme de forma muito divertida e irreverente, somadas a diálogos com ótimas sacadas.
O curioso sobre esse filme é que ele foi totalmente ignorado nos cinemas, frustrando o diretor/roteirista Mike Judge. Porem aqui acontece algo muito comum na sétima arte: O filme se tornou cultuado anos depois quando entrou para o mercado do DVD (lembrou de Blade Runner - O Caçador de Andróides , né? Eu sei), agregando muitos fãs e tornando-se item da coleção de muitos cinéfilos. Este é sem duvida o filme definitivo sobre o dia-a-dia moderno de quem trabalha em escritórios. E se você passa o dia todo em um trabalho maçante aturando chefes cruéis, depois de pegar um transito insuportável, você provavelmente vai se identificar muito com esse filme. Caso contrário, pelo menos lhe arrancará alguns momentos de diversão.
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